A História de Apenas um Qualquer. Capítulo VI

A Aula de Natação


Já estava no meio de minha média infância* quando minha mãe resolveu inscrever-me em um curso de natação de um clube perto de nossa casa. Bastante contrariado, fui.
Nunca compartilhei o entusiasmo pelos esportes que meus pais aparentavam possuir. Preferia muito mais brincar com meus soldadinhos de plástico, ficar desenhado no chão da sala, olhar os fantásticos desenhos animados (pelo menos eu os considerava fantásticos) que passavam na televisão, assistir aos filmes das décadas de 40 e 50 que iniciavam entre às quatro e cinco horas da manhã de domingo, entre tantas outras atividades maravilhosas que somente os anos de inocência poderiam proporcionar. Mas, definitivamente, natação não era uma delas.

De arrasto, fui levado então para minha primeira aula. Logo de cara aprendi a flutuar, embora com um deslocamento de 180° em relação à posição ideal, conforme a imagem à esquerda. Mas a persistência e a coragem sempre me acompanharam, e depois de noventa e oito aulas já havia feito notáveis progressos, como se pode ver na imagem à direita.

Analisando superficialmente as imagens alguém poderia supor que não houve progresso algum. No entanto, levado somente pelas aparências, esse alguém estaria cometendo um erro titânico em sua conclusão.
Durante minhas primeiras aulas eu não agüentava mais do que quinze segundos submerso na posição que eu orgulhosamente denominei de "Mergulho do Martim Pescador" (que, por motivos ainda não compreendidos, não fez muito sucesso). Já em minha nonagésima oitava aula, eu não só conseguia suportar facilmente toda a água que entrava por minhas narinas e inundava minhas fossas nasais, como conseguia permanecer dois minutos e quarenta e três segundos naquela posição antes de perder os sentidos.

Depois de tamanhas provas de meu valor como atleta e batedor de recordes, minha mãe não teve alternativa senão retirar-me daquele curso que já não me proporcionava desafios à altura*. Feliz e satisfeito com os resultados de meus esforços natatórios, retornei às ferozes batalhas entre os soldadinhos de plástico e os bonequinhos Playmobil (que quase sempre acabavam devorados por um dinossauro).


*Divido minha infância em baixa (0-3 anos), média (4-7 anos), alta (8-11 anos) e altíssima (12 anos em diante), para fins de enquadramento histórico.


*A verdade é que não consegui aprender, e, até hoje ainda não compreendo como fazer algo acima de 50kg boiar na água.

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