Teoria Das Personalidades Alucinadas

Estava eu retornando para casa quando, ao pagar o valor da tarifa de transporte, fui duramente repreendido pela moça responsável por aquela função no referido ônibus. Creio ter sido a admoestação totalmente desproporcional ao meu ato, que foi simplesmente o de oferecer uma nota de dez reais para o pagamento de pouco menos de dois reais. Ainda perplexo pelo comportamento anti-social daquela jovem, que sempre aparentou ser de uma rara gentileza com os usuários, desci do ônibus e fui direto para uma padaria perto de casa comprar alguns pães para o café da noite (não costumo jantar, pois possuo uma alucinante tendência a ter pavorosos pesadelos quando ingiro algo de difícil digestão antes de dormir).

Chegando à padaria, fui atendido por outra jovem. Dessa vez eu estava bastante precavido e preparado para ouvir de tudo, já que essa moça é conhecida nas imediações como detentora da civilidade de um tiranossauro faminto. Para meu mais profundo espanto, aquela mulher tratou-me com tamanha delicadeza e cortesia que julguei estar tendo uma alucinação (o que seria bastante razoável).

Tentando entender o que havia acontecido e trazer alguma ordem ao caos que se havia instaurado em minha compreensão do mundo, formulei uma teoria. Segundo essa teoria, existiriam somente três tipos de pessoas nesse mundo. As pessoas do tipo 1, as pessoas do tipo 2 e as pessoas do tipo 3.

Poderiam afirmar que há infinita forma e diversidade de almas viventes nesse planeta e, portanto, seria impossível qualificá-las em apenas três grupos. Porém, minhas experiências demonstram que toda essa diversidade deve-se somente às combinações dos três grupos básicos em vários graus de influência. Dessa forma, um indivíduo poderia ser 22% tipo 1, 55% tipo 2 e 23% tipo 3, apresentando uma forte tendência às qualidades e defeitos presentes em pessoas do tipo 2. Outros poderiam ser uma combinação de 1/3 do tipo 1, 1/3 do tipo 2 e 1/3 do tipo 3, sendo assim indivíduos bastante equilibrados e centrados.

Mas, algumas vezes, as misturas podem ser um tanto quanto inesperadas. É possível, apesar de totalmente ilógico, um sujeito ser 43% do tipo 1, 28% do tipo 2 e 58% do tipo 3, totalizando 129% no somatório geral. Obviamente isso não é admissível, pois o máximo que se pode ser é 100% de algo. Entretanto tais criaturas existem. Como os três tipos presentes nesse ser estão sempre em conflito por mais espaço, algum dos tipos acaba cedendo terreno para os outros e se encolhendo, situação que, momentos depois, tenta reverter, tornando o indivíduo altamente instável. São aquelas pessoas que apresentam variações bruscas de humor em intervalos muito pequenos de tempo, pessoas que no fim da manhã lhe tratam como um velho amigo, e no começo da tarde querem ver sua cabeça pendurada em uma estaca em praça pública.

Há ainda, no rol das estranhezas, pessoas formadas somente por um tipo. Essas são as radicais. Tudo em sua existência é binário, não importando qual dos três tipos dominou. Tudo é somente sim ou não, sempre ou jamais, amo ou detesto, agora ou nunca, etc.

Embora algumas vezes essa característica possa ser útil ao demonstrar uma firmeza de caráter ou uma segurança de opinião, quase sempre o que vemos são conceitos cheios de preconceitos, visto que não há lugar para a dúvida ou ao menos para uma segunda reflexão.

Enfim, existem uma série de personalidades estranhas que poderiam ser descritas por essa teoria, mas, apesar de querer descrever o que são os Tipos 1, 2 e 3, creio que terei de deixá-los na sombra, porque, sei lá, não seria muito educado de minha parte começar a rotular as pessoas por tipos.

1 comentário

Magna Eugênia em 31 de outubro de 2011 às 21:07

Eu achei ótimo e não tem esta opção pra marcar... Bem psicológica a postagem e verídica, que tal publicar a tese e aprofundar com pesquisas científicas e ser estudado por milhões de estudantes de Psicologia teórico Rabbit? Adorei mesmo e realmente faz sentido, principalmente esta parte das personalidades misturadas e no caso daquelas que só existe uma é pq a pessoa é orgulhosa e se policia muito, mas dentro da cabeça dela é aquela confusão... Muito semelhante ainda a teoria freudiana das três instâncias: ID, EGO e SUPEREGO.

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