FÁBULAS ALUCINADAS

 Zum-Zum, A Abelhinha Rebelde

Era uma vez uma abelhinha recém saída da maternidade das abelhinhas. Ela era forte, esbelta e inteligente, com certeza teria sido uma rainha, se o cargo não fosse preenchido através de eleição indireta (as abelhas não são lá muito democráticas).

Seu nome Era Zum, seu sobrenome Zum (é preciso cuidado para não confundi-los, pois o segundo pronuncia-se Zûum, com bastante zumbido). Zum-Zum era uma abelha como poucas abelhas podiam ser. Naquela colméia, era a única.

Sua mente viva e curiosa não se adaptava a toda aquela rigidez normativa. Seu espírito estava sempre acima das coisas rotineiras e sua mente sempre curiosa das coisas do mundo.

Entretanto, para sua aflição, mal saía de seu hexagonal berçário e já recebia, goela abaixo, as instruções de como ser uma abelha. Como e por onde andar, como se comunicar corretamente, como deixar as coisas limpas dentro da colméia, como encontrar as melhores flores, como transformar o néctar e o pólen em mel e geléia real, como tratar a rainha, sua mãe, e suas outras 424.186 irmãs, enfim, tudo que uma abelhinha deve saber para se tornar uma abelha de verdade.

E assim, encheram sua contestatória cabeça com mil regras, e nenhuma justificativa maior de que: "Sempre foi assim e assim é que deve ser!".

Zum-Zum, que era uma abelhinha muito meditabunda, não queria saber de seu servil destino e nem conseguia imaginar sua existência sendo gasta na massacrante tarefa de ir e vir, de flor em flor, dia após dia. Zum-Zum tinha alma de passarinho. Queria sair pelo mundo, comer quando tivesse fome, fazer aquilo que lhe trouxesse gratificação pessoal, queria ter o direito de um dia sentar em um galho de paineira e, por horas a fio, ficar lá, só olhando para o céu, contemplando o pôr-do-sol e vendo as estrelas trazerem a noite consigo.

Realizava suas tarefas quase sempre com a cara emburrada, entediada pela rotina. Quando tentava fazer algo diferente, como conversar com as flores, acabava por ouvir delas:
- Não seja abelhuda! Faça o que tem que fazer e não perca tempo. Ou você não sabe que o inverno já vem?

Mas Zum-Zum não desistia facilmente, e tentando sempre que tinha uma oportunidade, invariavelmente terminava por puxar conversa com algum bichinho da mata.

Um dia, quando voltava carregada de néctar para a colméia, encontrou, sentada à sombra de um pé de jacarandá, uma preguiçosa cigarra, que logo tratou de perguntar:
- Olá, apressada abelhinha, qual é o seu nome?

Cheia de curiosidade, disse:
- Olá, dona cigarra! Meu nome é Zum, Zum-Zum.

- Como você está, Zum-Zum-Zum? - perguntou então a cigarra.
- Não é Zum-Zum-Zum, dona cigarra, é Zum, Zum-Zum. Igual ao Bond, James Bond (Zum-Zum era fã do cinema americano, em especial dos filmes do 007).

- Pois bem, Zum-Zum, o que você acha de bebermos esse néctar que você leva enquanto toco uma música bem alegre com minha viola.

Fascinada pela cativante criatura, Zum-Zum sentou ao seu lado e ficou por horas, bebendo e cantando.

Tão alegre era aquela vida e tão divertido era aquele tempo, que Zum-Zum decidiu nunca mais retornar à sua colméia. Viveria livre, colheria somente o néctar que precisasse para subsistir e passaria sua existência a cantar e viajar.

E a abelhinha e a cigarra formaram a mais bela dupla de cantores que já houve naquela mata. E assim viveram por muito tempo.

Mas um dia o verão foi embora, e levou com ele todas as flores. Não mais havia o que comer em todo o bosque. A cigarra e abelhinha já não tinham vontade de cantar, sentiam muita fome e só pensavam em uma forma de acabar com ela.

Zum-Zum lembrou que na colméia havia muito mel guardado para o inverno. Engoliria seu orgulho, passaria lá e certamente conseguiria um pouco dele. Todavia, devido à intensa convivência com a cigarra, Zum-Zum perdera o odor da colméia de seu corpo. As abelhas que guardavam a entrada simplesmente não a reconheceram e atacaram a enfraquecida abelhinha, quase a matando.

Zum-Zum fugiu apavorada, e, esfomeada, foi contar as más novas à sua igualmente faminta amiga. Estavam já desesperadas, quando a cigarra lembrou de algo:
- Amiga abelhinha, vamos ter com a formiga! Sei que muita comida ela tem, pois a vi trabalhar o verão todo!

Mas a formiga, que era bastante vingativa, ouvindo os clamores da cigarra e da abelhinha, disse:
- Pois bem, enquanto vocês cantavam e se divertiam, eu trabalhava feito uma condenada. E pior, eu ainda era obrigada a ouvir as gozações da cigarra todos os dias. Vocês plantaram somente ventos, agora comam sua tempestade! - E com violência bateu a porta na cara da cigarra e da abelhinha, que morreram de fome e de frio poucos dias depois.


Moral: Se você for uma abelha rebelde, jamais se enfie na fábula da formiga e da cigarra.

2 comentários

Caroline em 21 de outubro de 2011 às 01:14

Adorei a moral da história.. (rs)

Marco em 21 de outubro de 2011 às 11:24

não li inteira, mas até onde li achei interessante

http://rocknrollpost.blogspot.com/

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