As Irmãns do Mangue
Era uma vez três irmãs: Falange, Falanginha e Falangeta. Elas moravam em uma velha palafita em um certo mangue no litoral do Brasil.
Um dia, semi-submersa por uma enchente, sua antiga moradia desmoronou. Sem terem para onde ir, as três irmãs foram parar em um ginásio onde a prefeitura local acomodava os desabrigados.E por trinta dias e por trinta noites as irmãs do mangue permaneceram no improvisado albergue. Cansadas de terem seus últimos pertences roubados e dos abusos que sofriam de alguns aproveitadores que se alojaram por lá, resolveram tentar a sorte por elas mesmas. Partiram para reconstruir sua antiga casa, mas foram impedidas pela prefeitura, pois aquela área fora considerada de risco.
Desesperadas e sem recursos ,uniram-se a outros desvalidos da região e invadiram uma área da prefeitura próxima à represa da cidade. Lá ergueram um barraco com o que encontraram pelas redondezas. Acomodadas, dentro do possível, tentaram entrar para o programa Fome Zero procurando zerar seus sofrimentos nutricionais, mas, infelizmente, estavam fora do prazo de inscrição.
Sem perspectivas, passaram a catar latinhas de refrigerante e a vasculhar os lixões da cidade em busca de alimentos. Obtiveram um certo sucesso e, apesar das constantes necessidades e das debilitantes doenças, estavam conseguindo sobreviver.
Certo dia, quando tudo parecia seguir sua normal rotina, a polícia cercou o lote invadido. O pelotão de choque entrou, e com suas terríveis bombas de gás lacrimogêneo, com suas furiosas saraivadas de balas de borracha e com seus demolidores golpes de cassetete tentaram expulsar os indigentes que ali se incrustaram.
As três irmãs, que eram desassombradas, agarraram os primeiros tocos de madeira que conseguiram encontrar e partiram para luta contra aqueles que queriam tomar-lhes o lar.
Falange, ferida pelas balas de borracha e golpeada inúmeras vezes na cabeça, foi levada para o hospital onde ficou em coma por quatro meses. Falanginha, imobilizada por três homens da força policial, foi levada para o presídio feminino onde ficou esquecida por dois anos. Falangeta, conseguindo desvencilhar-se das autoridades, fugiu e passou a viver nas ruas da capital.
Hoje, Falange leva uma vida vegetativa em um sanatório da prefeitura. Falanginha aprendeu sobre guerrilha e narcotráfico com as outras presidiárias e, saindo da prisão, tornou-se viciada, namorada de traficante e membro de uma gangue, onde ganhou a alcunha de "Falanginha do Capeta". Falangeta, após muito penar pelas ruas, foi aliciada por cafetões e se tornou mais uma prostituta na zona do baixo meretrício.
E todas viveram felizes para sempre, segundo o departamento de pesquisa oficial.
FÁBULAS ALUCINADAS
sexta-feira, 25 de março de 2011
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