FÁBULAS ALUCINADAS

O Patinho Horrendo

Nasceu então o patinho. E todas as aves aquáticas palmípedes lamelirrostras da região (pertencentes na maioria à família dos Anatídeos, especialmente as de grande porte) foram visitar a jovem mamãe e seu mais novo rebento, na intenção de perfazer todas aquelas manifestações culturais relativas aos acontecimentos memoráveis que todas as aves educadas e sedentas por bons conceitos na sociedade devem conhecer profundamente e exercitar com maestria (mesmo quando por motivos fúteis e a contragosto).

Mas o que ninguém esperava era encontrar, em vez de um belo e delicado patinho recém nascido do ovo, um estranho, desengonçado, desajustado, incongruente e desproporcional (entre muitas outras qualidades medonhas) ser que lhes ofuscava a vista e fazia seus estômagos borbulharem em clorídrica acidez.

O silêncio foi constrangedor por intermináveis segundos.

- Que patinho horrendo! - Cochichou Dona Patanha no ouvido de sua amiga de fofocas, Dona Gancilda.

Falando como louca (coisa que era lhe bastante fácil, visto ser realmente louca) igualmente cochichou:
- De fato, amiga Patanha, mas lembre-se de que se há males que vem para o bem, há males que vêm para o mal. E se é mesmo assim, há coisas boas que vem para o bem, e, por pura lógica aristotélica, há coisas boas que vêm para o mal. E isso me parece muito mau... muito mau... muito mau... muito mau.

E assim, muito mal recebido, foi o pobre patinho horrendo. Obviamente não foi agredido, sobretudo nos torturantes momentos daquela desalentadora apresentação, onde todos simularam, com grandiosa alegria, intensa simpatia pela nova cria que se unia à comunidade dos animais, mas não houve um único dia na vida do malfadado patinho em que não sentiu a profunda rejeição em absolutamente tudo o que fazia ou dizia.

Seus primeiros dias de vida se mostraram um desafio às suas habilidades naturais. O patinho horrendo, cujo nome de batismo seria Felix Patrasco, caso tivessem tido coragem de batizá-lo, possuía uma voz tão dissonante, disforme, pouco acústica, enervante, agônica e molesta, que seus estrídulos eram ouvidos a muitos e muitos trotes de distância. Mais ou menos a distância mínima que todos queriam manter dele. E nesse estado psicológico lamentável vivia Félix nesse mundo.

Era de costume em seus solitários dias ver sua mãe e seus irmãos nadando no lago. Sempre se sentia compelido a juntar-se a eles. Obviamente jamais levava aquele impulso a cabo, visto não saber nadar. Sim, Felix Patrasco não sabia nadar. Muito pior até, Félix Patrasco não possuía a menor idéia de como nadar. Olhava para os demais seres no lago e assombrava-se com tais demonstrações de flutuabilidade e com a sua aparente incompetência natatória.

Sua vida tornava-se cada dia mais angustiante. Não suportava mais aqueles olhares irônicos, os cochichos debochados dos demais patinhos e todos aqueles requintes de crueldade com que a sociedade patal costuma tratar os indivíduos que estão fora do padrão socialmente aceito.

Irou-se.

Depenou-se metaforicamente de inconformismo e, em sua encrudelecida mente, indignou-se furiosamente com aquela situação patológica:

- Patota de cretinos! - resmungou - Eles me pagam! Hei de ser o melhor pato que já nadou nessa porcaria de lago!

E nesse propósito, enlouquecido de asco, atirou-se na água a patinhar.

Afundou como uma pedra...com extrema dificuldade ergue a cabeça para fora da água; olhos arregalados, bico aberto de pavor, submerge novamente...calma no lago...algumas ondas e somente as patas são visíveis para fora, patas frenéticas...outro mergulho...segundos de silêncio...esguichos de água, asas batendo em visceral desespero, um corpo se contorce, cabeça, asas, pés e tronco se revezam em infernal balé, como se rolassem ribanceira abaixo e por fim afundam...

Todos vendo a dantesca cena exclamam assustados:

- Santo Donald! O patinho se afogou!!!

O reverente silêncio se instaurou entre os bichos, mesmo entre os que o detestavam, que eram a absoluta maioria. Agora não era mais hora de denegrir a imagem do feioso pato. Agora não, nesse momento a solidariedade era a melhor reação, e então gritavam:

- Pobre patinho! Que coisa terrível aconteceu com nosso amigo!

Nesse momento, com um último fôlego, o horrendo patinho põe o biquinho para fora d'água e grita:

- QUERO MAIS É QUE VOCÊS VIREM PATÊ, SEU BANDO DE...blug...glub...

E afunda.



Moral: Filhotinhos de urubu não sabem nadar.

4 comentários

Agnes em 5 de dezembro de 2010 às 14:05

engraçado, mas triste :(

Lenivaldo Silva em 5 de dezembro de 2010 às 18:46

Own...
Triste fim do patinho

Onezimo em 5 de dezembro de 2010 às 21:15

O e agora quem podera salvar, o urubuzinho ?????

HugoMdrs em 23 de maio de 2011 às 00:49

kkkkkkkk , essa ta massa ^^ . Mais tadiinho do patiinho!

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